Enxaqueca com aura: um alerta para o risco de AVC em jovens

A enxaqueca é um distúrbio neurológico comum que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Entre seus diferentes tipos, destaca-se a chamada enxaqueca com aura, caracterizada por sintomas neurológicos transitórios, como visão de luzes piscantes, alterações na fala, dormência ou dificuldades de coordenação motora. Embora geralmente temporários, esses sinais podem indicar um risco aumentado para problemas mais graves, como o acidente vascular cerebral (AVC), especialmente em adultos jovens.

Um estudo publicado na revista Stroke, da Associação Americana do Coração, revelou que a enxaqueca com aura pode estar associada ao AVC isquêmico criptogênico — aquele de causa desconhecida — em pessoas com menos de 50 anos. O risco é ainda maior em mulheres que apresentam forame oval patente (FOP), uma anomalia cardíaca congênita que mantém aberta uma pequena comunicação entre os átrios do coração.

Essa abertura, que deveria se fechar após o nascimento, pode permitir a passagem de coágulos ou bolhas de ar para a circulação arterial, aumentando a chance de que eles atinjam o cérebro e causem um AVC. Estima-se que até 25% da população possua essa condição, muitas vezes sem diagnóstico.

O estudo analisou dados de mais de mil adultos europeus, divididos entre pacientes que sofreram AVC criptogênico e um grupo controle saudável. Constatou-se que fatores tradicionais como hipertensão e tabagismo aumentaram em 18% o risco de AVC em quem tinha FOP, enquanto fatores não tradicionais, como a enxaqueca com aura, dobraram essa probabilidade.

Especialistas destacam que a relação entre enxaqueca com aura e FOP já é conhecida na literatura científica, mas ainda pouco considerada na prática clínica. Isso reforça a importância de uma avaliação médica detalhada, principalmente em jovens que apresentam crises recorrentes e sintomas neurológicos atípicos.

Entre as causas incomuns de AVC em jovens, além da enxaqueca com aura associada ao FOP, estão dissecções arteriais, trombofilias, vasculites e doenças genéticas raras.

A neurologista Polyana Piza alerta que não são todos os pacientes com enxaqueca que precisam de investigação cardiológica, mas aqueles com sintomas persistentes ou intensos devem receber acompanhamento especializado. Medidas preventivas, incluindo o uso de medicamentos adequados, podem reduzir os riscos.

Assim, a enxaqueca com aura deve ser vista não apenas como uma dor de cabeça incapacitante, mas também como um marcador clínico importante para riscos vasculares, principalmente em adultos jovens.

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